domingo, 30 de março de 2014

O conceito do happy end

Embora não estivesse diretamente ligado à Comunicação, o antropólogo, sociólogo e filósofo francês Edgar Morin contribuiu para os estudos sobre a cultura de massa no âmbito comunicacional a partir da década de 60, em seu livro "O Espírito do Tempo".


De acordo com o autor, a partir da década de 30 começou a se observar um novo estilo no cinema, o chamado "happy end", que viria então a contrastar com a ideia milenar da tragédia grega. Antes, o que se via era a imagem de um herói redentor, em que a infelicidade e o sofrimento estavam sempre presentes em sua vida. O sacrifício dos personagens inocentes seria ou a morte ou uma longa vida de privações, como é o caso do personagem Jean Valjean, em "Os Miseráveis". Órfão desde criança, extremamente pobre e sem conseguir emprego, um dia Valjean rouba um pão para comer e é condenado a cinco anos de trabalho forçado. Entretanto, os anos se multiplicam e o personagem não consegue sair de sua situação, percebendo após uma longa jornada que não fora ele quem cometera o crime, mas a própria sociedade, sendo ínfimo seu prejuízo comparado ao que o mesmo sofreu. 

Cena do filme "Os Miseráveis", de 2012, adaptado do livro de mesmo nome de Victor Hugo

Já no conceito de happy end, a ideia seria a de uma "irrupção da felicidade". Por este aspecto, o filme terminaria com todos os problemas do personagem sendo resolvidos, como uma espécie de contos de fadas.O herói passa a se tornar o alter ego do espectador e que, portanto, desejará apenas o sucesso e a felicidade do personagem. Nesse aspecto, Morin comenta que, paradoxalmente, quando o filme se aproxima da realidade, ele termina com uma visão mítica ao satisfazer todos os desejos do herói e oferecer uma felicidade eterna.


É possível observar este conceito no filme "O Diário de uma Paixão", do diretor Nick Cassavetes e lançado em 2004. O filme começa com um idoso que todos os dias comparece a um hospital para ler uma história a uma paciente com alzheimer. Allie, uma jovem rica, e Noah, um trabalhador braçal,se apaixonam nas férias de verão, mas são impedidos pela mãe de Allie de permanecerem juntos, devido à condição financeira de Noah. No final da história, mesmo após muitas complicações, os jovens conseguem se reconciliar na história, e então a paciente percebe que a história contada era na verdade a sua própria, e que o idoso seria Noah. Ou seja, ambos permanecem juntos e o filme termina com uma promessa de amor eterno.


Entretanto, algumas produções cinematográficas atuais fogem da regra de final feliz,  como é o caso do filme "O Espetacular Homem Aranha 2", de Marc Webb (2014). O filme trabalha os conflitos internos vividos por Peter Parker, o homem-aranha, enfatizando a relação amorosa do herói com Gwen Stacy, sua primeira namorada. Eles se amam, mas Peter não consegue lidar com duas vidas diferentes e o casal se separa. Porém durante o filme eles reatam, e o público é levado a acreditar que eles ficarão juntos no final e tudo correrá bem, até a personagem morrer em decorrência de um descuido do Homem-Aranha, o que causou muitas frustrações mas foi bem trabalhado para dar a ideia de que, apesar de situações difíceis, devemos seguir em frente e construir um caminho melhor.





2 comentários:

  1. Oi, Bruna! O post está bem legal, mas acho que você poderia discorrer mais sobre os exemplos. Que tal falar de forma mais aprofundada sobre Os Miseráveis? Você pode colocar vídeos também!

    Talvez ficaria interessante até mesmo fazer um paralelo com produções atuais que fogem um pouquinho do Happy End, mostrando que, apesar dele ser predominante, há autores que correm riscos e fogem da 'regra'! Que tal?

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  2. Ficou bom, Bruna!! :)

    Há só um errinho de escrita, no parágrafo abaixo do vídeo, na frase "O herói passa a se tornar o alter ego do espectador e que, portanto, desejará apenas o sucesso e a felicidade do personagem. " Acho que esse "e" pode ser tirado!

    No mais, bom trabalho!

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