domingo, 6 de abril de 2014

Viagiar e Punir - "O Panoptismo" Michel Foucault/ É visto, mas não vê, o panóptico BBB.


O livro de Michel Foucault é uma análise dos mecanismos teóricos e sociais que motivou várias das grandes mudanças que se produziram nos sistemas penais do ocidente durante a era moderna. Dedica-se ao detalhamento da vigilância e da punição, utilizadas em entidades estatais como hospitais, prisões e escolas. Direciona seu foco também para vários documentos históricos franceses, mas as questões sobre as quais se debruça não deixam de ser relevantes para as sociedades contemporâneas. É uma obra que teve grande influência em intelectuais, políticos, ativistas sociais e artistas.


Em sua obra Vigiar e Punir, na qual trata do Panoptismo (cap. 3), Foucault analisa o poder disciplinar na sociedade moderna, tratando das formas de pensamento como relações de poder, que geram coerção e imposição. 
O panoptismo corresponde à observação total, é a tomada integral por parte do poder disciplinador da vida do indivíduo. Ele é vigiado durante todo o tempo, sem que veja o seu observador, nem que saiba em que momento está a ser vigiado. Aí está a finalidade do Panóptico.
“... induzir no detido um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o funcionamento autoritário do poder. Fazer com que a vigilância seja permanente nos seus defeitos... que a perfeição do poder tenta tornar inútil a atualidade do seu exercício...”
Foucault, pág 166


Exemplos do panoptismo foucaultiano na sociedade contemporânea são vários. O programa televisivo Big Brother Brasil, da rede Globo, por exemplo, relembra a estrutura de Bentham do século XVIII – “ver sem ser visto”. Os participantes ficam confinados dentro de uma casa, observados por dezenas de câmeras e milhões de pessoas. 

Esse "panoptismo moderno", o BBB, confina um número variável de pessoas (dependendo da edição pode ter até 20 pessoas) em uma casa cenográfica onde são viagiadas 24 horas por dia sem nenhum contato com familiares, amigos ou qualquer outro meio com que possam obter informações. 
A casa mais vigiada do Brasil conta com quase 40 câmeras, inclusive no banheiro, mas esta fica desligada. Ela só é ligada quando duas ou mais pessoas entram no banheiro ao mesmo tempo. Não pode haver lugar na casa ao qual a produção ou direção não tenham acesso. 
Os jogadores não podem se comunicar de forma não verbal ou em outro idioma, sendo proibido, também, andar sem microfone e cochichar. 
Inclusive as relações entre os participantes se assemelham às descritas por Foucault. Os mais disciplinados constroem uma imagem positiva, transmitida para a sociedade externa, que funciona como juíza. Aqueles que transgridem, que se rebelam, são literalmente eliminados. E o programa segue, promovendo seu auto funcionamento por um processo de seleção.





" O detento nunca sabe se está sendo observado, mas deve ter certeza de que sempre pode sê-lo"



3 comentários:

  1. Oi, Carolina! Você conseguiu explicar bem o que é o panóptico e sua função, mostrando como Foucault o utiliza em seu livro. O exemplo do Big Brother foi bem introduzido, ilustrando o post. Mas, talvez você poderia só falar um pouquinho mais sobre ele, isto é, mostrar como o programa funciona, quantas câmeras, quantos participantes, e até mesmo mostrar como se deu essa interação entre os disciplinados e os transgressores na última edição!

    Bom trabalho :D

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    1. Oi, Paloma! Já fiz as alterações pertinentes e coloquei mais um link que remete a um "balanço" da última edição.
      Obrigada!

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    2. Beleza, Carolina!

      Tem só um errinho de digitação no segundo parágrafo, na frase "Ele é viagiado durante todo o tempo, sem que veja o seu observador, nem que saiba em que momento está a ser vigiado." :)

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