A crítica
apresentada por Sidimar Rostan em 06/11/2012 no site Observatório da Imprensa é feita a partir da análise do
episódio “Blame It On Lisa”. Presente na 13ª temporada de “The
Simpsons”, foi exibido originalmente em 31 de março de 2002 pelo
canal Fox (Fox Broadcasting Company) nos Estados Unidos. O seriado de
animação surgiu como convidado especial no programa The Tracey
Ulman Ullman Show e logo a família, criada por Matt Groenning,
ganhou seu espaço próprio na TV, no dia 17 de dezembro de 1989.
Conhecido por
satirizar o estilo de vida estadunidense, o programa exibiu o
episódio em questão e causou polêmica ao utilizar o humor já
conhecido da série para “brincar” com o Brasil, assim como fez
com vários outros países no decorrer de sua exibição. A produção
foi mal recebida pelas autoridades brasileiras, que ameaçaram
processar a Fox. No entanto, o roteirista Bob Bendetson recebeu uma
indicação ao Writers Guild of America Award pelo episódio, que
virou fonte de estudos acadêmicos nos Estados Unidos e no Brasil,
onde foi censurado por pressão da Riotur (Empresa de Turismo do
Município do Rio de Janeiro) e com o apoio do governo Fernando
Henrique Cardoso. O jornalista diz que a tal censura prejudica o
espectador e não chegou a ser contestada nem mesmo pelo canal Fox
porque visa a audiência de seus principais expectadores da América
Latina.
Segundo Rostan, o
desenho foi interpretado como uma reduzida visão do contexto
brasileiro representado em outros países, tendo como base o
carnaval, futebol e o samba. Mas acima de uma analogia ao
subdesenvolvimento, há um retorno do que se repete da ordem
problemática social. O processo constante de hironia presente em
“The Simpsons” é caracterizado como hiper-cinismo por Carl
Matheson, um dos autores do livro Os Simpsons e a Filosofia (2003). A
abordagem irônica do próprio cinismo apresentada incomodou
autoridades, mesmo não sendo inédita, ao ponto que a segurança
pública há muito se apresenta passiva, deixando margem à
referência da síndrome de Estocolmo, vivenciada por Homer no
capítulo ao encontrar segurança junto aos seus sequestradores, no
Rio de Janeiro.
“O objetivo da
crítica não é com toda a certeza ser conveniente e amável, nem
para o leitor nem para o autor da obra, entregando-se a
lugares-comuns. Tem de ser, pelo contrário, o de servir a
inteligência do leitor, contrariando a preguiça das ideias feitas,
que são precisamente o oposto – diria mesmo militantemente
inimigas – da reflexão, do conhecimento, do estudo, do pensamento
elaborado.” (TORRES, Eduardo C. Ler Televisão, Celta Editora 2008, pág 9)
Considerando tal
conteúdo, o jornalista viabiliza a conexão do cenário de “Blame
It On Lisa” com o rompimento de estereótipos, a partir da
revelação de um país que não é ingênuo nem passivo. O Rio de
Janeiro, simbolismo de uma sociedade imediatista, é colocado acima
de um objeto de humor gratuito, devido à incoerência de desejo de
uma sociedade economicamente próspera com sua auto-projeção e
tramas particulares.
Devido à
insegurança consequente dos atentados terroristas, (ao considerar a
exibição do episódio logo após) é feito um comparativo social
visualizando o vínculo historiográfico entre a capital carioca e
Estados Unidos que ao globalizar cenários regionais, faz-se comum o
terror da violência. Sidimar Rostan considera ainda que o
capitalismo alimenta a desigualdade social, patrocinando inúmeras
formas de atentados à vida e à liberdade em contraponto ao
enquadramento da família Simpson. Logo, o antagonismo é interno,
uma vez que forças opostas são estabelecidas e reconhecidas
individualmente a partir de cada perspectiva da nação. Ele ressalta
a histórica valorização da Corte portuguesa em detrimento à
essência da guerra, tal como a comum exaltação do “American way
of life”. Enquanto a ideologia da luta brasileira estiver baseada
no conteúdo expostamente ironizado por “The Simpsons”, a
alienação se sobressairá ao crescimento do país.
Muito interessante a construção de Sidimar!
ResponderEliminarÉ esse tipo de análise amplia nossa visão. Muito boa mesmo!
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