sábado, 31 de maio de 2014

Canclini: consumo serve para pensar.

O antropólogo Nestór Garcia Canclini, em seu livro "Consumidores e cidadãos", discute o processo de globalização e as modificações que ocorrem em função das negociações identitárias. O cerne deste livro está em compreender o consumo não como apenas a aquisição de produtos, mas como forma de exercer cidadania e de significação da vida social. Desta forma, o autor compreende a utilização de produtos para se pensar o próprio corpo.

Outro aspecto abordado por Canclini é a questão da identidade nacional negociada com a internacional, o que gera a hibridização entre culturas. Segundo ele, essa mistura é percebida claramente no consumo dos setores populares que, sem deixar de compreender os símbolos da cultura local, são capazes de compreender elementos do imaginário que a publicidade e a televisão reúnem.

Nisto, o autor reformula as perguntas que são feitas quando se pensa o consumir. Para ele, consumo não é um ato irrefletido, ideia ligada a noção de onipotência dos meios colocados como manipuladores. Canclini argumenta que o ato de consumir é muito mais complexo do que esta noção do senso comum.



Ao invocar os estudos antropológicos sobre rituais no capítulo "O consumo serve para pensar", o autor destaca as celebrações como algo que serve para "conter o curso dos significados" e classifica o consumo como algo que faz parte de uma racionalidade sociopolítica.

Levando em consideração o aspecto simbólico dos bens, pode-se associar o movimento atual do 'funk ostentação', que na maioria das vezes é cantada por jovens da periferia que utilizam em suas letras marcas e produtos que estão fora da classe e universo em que vivem. Segundo Canclini, o que rege a lógica de se apropriar de bens de difícil acesso, ou seja, produtos que distinguem a pessoa que o usa, não é a necessidade, mas a "impossibilidade de que outros os possuam". Para que essa diferenciação aconteça é preciso que os outros membros compartilhem do significado destes bens, ou nas palavras dele: "Um carro importado ou um computador com novas funções distinguem os seus poucos proprietários na medida em que quem não pode possuí-los conhece o seu significado sociocultural."

Canclini também levanta a questão do consumo não como" um simples lugar de troca de mercadoria", mas como um local onde há interações socioculturais mais complexas. Com isso, quando um indivíduo adquire um produto, também está pensando seu lugar no mundo e não somente satisfazendo uma necessidade. Utilizando o exemplo do funk ostentação é possível que se pense como um movimento que tem função política, pois ao comprar algo também se está enviando uma mensagem. O que esses meninos e meninas de periferia podem estar querendo dizer é que por muito tempo foram marginalizados e agora desejam obter o status da classe média alta utilizando mercadorias características deste grupo, desta forma, conquistar bens que os distanciem da realidade para a qual foram excluídos.



2 comentários:

  1. Oi, Mariana! O post está bacana; só acho que você poderia aprofundar um pouco mais na parte prática, através dos exemplos encontrados atualmente em nossa sociedade, já que a teórica está bem consolidada. Utilizar mais imagens e vídeos vai enriquecer o conteúdo do post!

    :D

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