terça-feira, 13 de maio de 2014

Martín-Barbero e o reflexo da realidade pelos MCM

       Durante a década de 1980, os meios de comunicação ganharam força na América Latina, principalmente no que diz respeito à televisão, o que levou muitos pesquisadores a desenvolverem seus próprios estudos na área de comunicação, tentando não usar outras teorias já formuladas. Entre eles, Jesús Martín-Barbero, semiólogo, antropólogo e filósofo espanhol, que vive na Colômbia desde 1963.


       Suas pesquisas se voltam ao modelo das mediações, em que ele muda a visão frankfurtiana de que as pessoas são manipuladas pela mídia e de que o emissor tem total influência sobre o receptor, que é considerado passivo. Para Barbero, os receptores têm a capacidade de assimilar o que foi transmitido e dar o seu próprio sentido, de acordo com seu contexto, suas mediações.

        Diferenças de classes sociais, de grupos, experiências, conhecimento adquirido ao longo da vida, tudo que está ao redor do receptor são mediações, e por variarem em cada pessoa, geram diferentes interpretações e usos, causando o que Barbero chama de “individualidade da identidade”. As identidades culturais estão cada vez mais fragmentadas, e a globalização também influencia nesse processo.
       Os meios de comunicação refletem a realidade, ao mesmo tempo em que procuram incorporar essas mudanças e se relacionar às novas realidades que vêm surgindo. Um exemplo disso são as telenovelas, mais especificamente brasileiras. Durante muitos anos, vêm fazendo parte do cotidiano de várias famílias, que entre romances e injustiças, acabam se identificando com a ficção.
       Ao longo do tempo, as novelas começaram a tratar de temas sociais que acabam atraindo a atenção de outros tipos de público, e ao propor essas ideias, “abre” a cabeça das pessoas para refletir a respeito desses novos assuntos.
          Em 2003, um tema que teve destaque nacional foi a violência contra à mulher, retratado na novela Mulheres Apaixonadas. Na trama, a personagem Raquel, interpretada pela atriz Helena Ranaldi, era espancada pelo marido Marcos, vivido pelo ator Dan Stulbach, e sofreu durante anos a violência doméstica em silêncio. Um dia, compartilhou o problema com a diretora da escola em que trabalhava, que a incentivou a procurar uma delegacia da mulher. A novela não apenas retratou a realidade vivida por diversas mulheres, como também teve uma influência grande na vida dessas, já que na época, houve um aumento considerável de denúncias contra a violência doméstica. Esse crescente número de denúncias também fez com que mais propostas, que visavam aumentar a pena para os agressores, surgissem, e em 2006, foi criada a Lei Maria da Penha, que além de garantir a prisão dos agressores, trata também a violência psicológica como crime.



     Nessa mesma novela, trata-se de um tema que até hoje é muito discutido, o homossexualismo. Duas estudantes, Clara (Alinne Moraes) e Rafaela (Paula Picarelli) sofrem preconceito por serem lésbicas. Nessa novela, o tema não teve rejeição por parte do público, já que havia sido tratado em outra, Torre de Babel (1998), sem êxito.




       Esse assunto vem sido trabalhado ao longo dos anos, e, recentemente, ganhou destaque  com o beijo entre os personagens Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso), no último capítulo de Amor à Vida. Grande parte da sociedade brasileira ainda é muito conservadora, e talvez por isso o beijo gay teve essa repercussão. 



BEIJO entre FÉLIX e NIKO - Beijo Gay de Amor à... por 35fabianosilva 


        Diferentes países estão aprovando leis para o casamento de pessoas do mesmo sexo. No Brasil, em maio de 2011, o Supremo Tribunal Federal reconheceu que casais homossexuais poderiam converter uma união civil em casamento, e passaram a ter os mesmos direitos que casais heterossexuais. A questão é que ainda há muito preconceito em nosso país, que, de acordo com estatísticas levantadas pelo Grupo Gay da Bahia (ONG voltada para a defesa dos direitos dos homossexuais no Brasil), é o mais homofóbico do mundo. Não apenas pelo assunto do casamento gay estar em alta, a novela quis "abrir" a mente dos telespectadores e tentar acabar um pouco com esse preconceito . A televisão, portanto, não é um instrumento manipulador; ela é o reflexo de nossa realidade, que apenas molda nossos modos de ver o mundo e nos faz pensar sobre o que pode ou não fazer parte de nosso contexto.

3 comentários:

  1. Oi, Leticya! A parte teórica do seu texto está bacana e você escolheu ótimos exemplos. Acredito que você pode explorar um pouquinho mais o fato de como a audiência se apropriou dessas mensagens passadas pela televisão nos casos que você citou.

    Por exemplo: ao retratar a violência contra a mulher, Mulheres Apaixonadas acabou servindo como um dos instrumentos para que a população demandasse resoluções políticas, culminando com a aprovação da Lei Maria da Penha. É válido pensarmos, então, o papel dessa mediação da TV nesse contexto social e na abordagem dessa temática.

    No mais, parabéns pelo post! :D

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    1. Paloma, fiz a ligação com a Lei Maria da Penha, e no homossexualismo, acrescentei a homofobia.

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