Durante a década de 1980, os meios de comunicação ganharam
força na América Latina, principalmente no que diz respeito à televisão, o que
levou muitos pesquisadores a desenvolverem seus próprios estudos na área de
comunicação, tentando não usar outras teorias já formuladas. Entre eles, Jesús
Martín-Barbero, semiólogo, antropólogo e filósofo espanhol, que vive na
Colômbia desde 1963.
Suas pesquisas se voltam ao modelo das mediações, em que ele muda a visão
frankfurtiana de que as pessoas são manipuladas pela mídia e de que o emissor
tem total influência sobre o receptor, que é considerado passivo. Para Barbero,
os receptores têm a capacidade de assimilar o que foi transmitido e dar o seu
próprio sentido, de acordo com seu contexto, suas mediações.
Diferenças de classes sociais, de grupos, experiências, conhecimento adquirido
ao longo da vida, tudo que está ao redor do receptor são mediações, e por
variarem em cada pessoa, geram diferentes interpretações e usos, causando o que
Barbero chama de “individualidade da identidade”. As identidades culturais
estão cada vez mais fragmentadas, e a globalização também influencia nesse
processo.
Os meios de comunicação refletem a realidade, ao mesmo tempo em que procuram
incorporar essas mudanças e se relacionar às novas realidades que vêm surgindo.
Um exemplo disso são as telenovelas, mais especificamente brasileiras. Durante
muitos anos, vêm fazendo parte do cotidiano de várias famílias, que entre
romances e injustiças, acabam se identificando com a ficção.
Ao longo do tempo, as novelas começaram a tratar de temas sociais que acabam
atraindo a atenção de outros tipos de público, e ao propor essas ideias, “abre”
a cabeça das pessoas para refletir a respeito desses novos assuntos.
Em 2003, um tema que teve destaque nacional foi a violência contra à mulher,
retratado na novela Mulheres Apaixonadas. Na trama, a personagem Raquel,
interpretada pela atriz Helena Ranaldi, era espancada pelo marido Marcos,
vivido pelo ator Dan Stulbach, e sofreu durante anos a violência doméstica em
silêncio. Um dia, compartilhou o problema com a diretora da escola em que
trabalhava, que a incentivou a procurar uma delegacia da mulher. A novela não
apenas retratou a realidade vivida por diversas mulheres, como também teve uma
influência grande na vida dessas, já que na época, houve um aumento
considerável de denúncias contra a violência doméstica. Esse crescente número de denúncias também fez com que mais propostas, que visavam aumentar a pena para os agressores, surgissem, e em 2006, foi criada a Lei Maria da Penha, que além de garantir a prisão dos agressores, trata também a violência psicológica como crime.
Nessa mesma novela, trata-se de um tema que até hoje é muito discutido, o homossexualismo. Duas estudantes, Clara (Alinne Moraes) e Rafaela (Paula Picarelli) sofrem preconceito por serem lésbicas. Nessa novela, o tema não teve rejeição por parte do público, já que havia sido tratado em outra, Torre de Babel (1998), sem êxito.
Esse assunto vem sido trabalhado ao longo dos anos, e, recentemente, ganhou
destaque com o beijo entre os
personagens Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso), no último capítulo
de Amor à Vida. Grande parte da sociedade brasileira ainda é muito
conservadora, e talvez por isso o beijo gay teve essa repercussão.
BEIJO entre FÉLIX e NIKO - Beijo Gay de Amor à... por 35fabianosilva
Diferentes países estão aprovando leis para o casamento de pessoas do mesmo
sexo. No Brasil, em maio de 2011, o Supremo Tribunal Federal reconheceu que casais homossexuais poderiam converter uma união civil em casamento, e passaram a ter os mesmos direitos que casais heterossexuais. A questão é que ainda há muito preconceito em nosso país, que, de acordo com estatísticas levantadas pelo Grupo Gay da Bahia (ONG voltada para a defesa dos direitos dos homossexuais no Brasil), é o mais homofóbico do mundo. Não apenas pelo assunto do casamento gay estar em alta, a novela quis "abrir" a mente dos telespectadores e tentar acabar um pouco com esse preconceito . A televisão, portanto, não é um instrumento manipulador; ela é o reflexo
de nossa realidade, que apenas molda nossos modos de ver o mundo e nos faz pensar sobre o que
pode ou não fazer parte de nosso contexto.
Oi, Leticya! A parte teórica do seu texto está bacana e você escolheu ótimos exemplos. Acredito que você pode explorar um pouquinho mais o fato de como a audiência se apropriou dessas mensagens passadas pela televisão nos casos que você citou.
ResponderEliminarPor exemplo: ao retratar a violência contra a mulher, Mulheres Apaixonadas acabou servindo como um dos instrumentos para que a população demandasse resoluções políticas, culminando com a aprovação da Lei Maria da Penha. É válido pensarmos, então, o papel dessa mediação da TV nesse contexto social e na abordagem dessa temática.
No mais, parabéns pelo post! :D
Paloma, fiz a ligação com a Lei Maria da Penha, e no homossexualismo, acrescentei a homofobia.
EliminarMuito bom, Leticya! :D
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