quinta-feira, 15 de maio de 2014

As mediações e o espectador.


      Jesus Martín-Barbero é filósofo, semiólogo e antropólogo. Nasceu na Espanha, mas  mudou-se para a Colômbia em 1963 e, desde 2000, vive no México. O teórico espanhol é pesquisador da Comunicação e Cultura, principalmente, no contexto latino-americano. Barbero defende que é preciso haver uma reflexão independente na América latina e descarta a importação de teorias. 
     Barbero e outros filósofos como Nestor Canclini e Guilherme Orozco focaram seus estudos na inserção da televisão na cultura popular. Barbero avalia como a memória popular influencia os conteúdos midiáticos seja com presença ou ausência, afirmação ou negação, confisco ou deformação.
     Sua teoria defende a verdadeira participação do receptor no processo comunicativo, que, para ele, não é apenas um sistema impositivo, no qual existem dominantes e dominados. Para Barbero, a análise do cotidiano traz outras informações e se revela a chave para a recepção. Os diferentes modos de ler as mensagens estão muito ligados às tradições, às experiências, ao círculo social e às expectativas de cada um.

O PROGRAMA CIDADE ALERTA 
   Analisando o programa Cidade alerta, que reporta notícias policias, porém de cunho sensacionalista, há diferentes formas de recepção. Rejaine Alvarenga, dona de casa e moradora da cidade interiorana Campo Belo, conta que gosta muito do programa, porque ela fica sabendo  como está a violência no país. “Eu fico horrorizada com os casos de morte, estupro e roubos que tem por aí. Espero nunca visitar São Paulo”, comenta. 
     Já Lucas Gonçalves, estudante de Jornalismo e morador de Juiz de Fora, prefere nem ver o programa, pois, além de ser sensacionalista, considera mal feito. O estudante acrescenta que muitas pessoas recebem esse conteúdo de forma positiva, pois “a maioria população não possui uma "educomunicação" e, de fato, vão acreditar em tudo, principalmente, que a modernidade é pura violência”.

     Nesses exemplos é possível observar que o contexto e a formação influenciam nas formas de recepção e nos modos de ler um programa.       Segundo Barbero, isso acontece, porque os conteúdos transmitidos são passados por filtros chamados mediações, que podem ser estruturais, institucionais, conjunturais ou tecnológicas. No caso acima, é um exemplo de mediação conjuntural, pois diz respeito ao contexto em que receptor está inserido e também estrutural, pois envolve o repertório que este possui.

 O BEIJO GAY NA NOVELA AMOR À VIDA
     Outro exemplo, é um tema que foi muito debatido no ano passado: se haveria ou não o beijo gay na novela Amor à Vida de Walcyr Carrasco e exibida em horário nobre pela Rede Globo. Muito se discutiu sobre como isso seria recebido pelas pessoas, pois sabe-se que no Brasil ainda há muito conservadorismo e preconceito. O autor decidiu e a cena aconteceu.
     Guilherme Freire, 19 anos, homossexual, conta que ficou super emocionado.  “Eu estava apreensivo se iria acontecer ou não, mas acredito que foi uma conquista louvável”, relata. Guilherme acrescenta ainda “espero que agora eles retratem as relações ,homoafetivas com mais fidelidade”.
       Eugênia Costa , 82, viúva, diz que não foi acostumada a ver esse tipo de coisa e que é muito difícil pra ela esse conteúdo estar exposto assim. “Não sou preconceituosa, mas tive uma formação cristã-católica em internato de freiras e pais muito rígidos”, comenta.
Nesse caso, observa-se um exemplo de mediação institucional, no qual revela as influências de instituições como igreja, partido, escola e é também uma mediação conjuntural.

A TV PARA AS CRIANÇAS
Para finalizar, a mediação tecnológica, que analisa a eficiência de mecanismos técnicos de produção. Segundo Débora, de 7 anos, ela ama assistir televisão e se identifica com alguns personagens. “Eu amo Meu pedacinho de chão, porque é tudo colorido e lindo, eu queria ser a professora Juliana, porque ela é bonita”, comenta. A garota acrescenta que passa horas vendo televisão, porque ela aprende muitas coisas, inclusive, Espanhol na novela Chiquititas.





RESSIGNIFICAÇÃO 
Outro conceito interessante do téorico Barbero é o de Ressignificação, isto é, pegar uma cultura ou um produto importado e dar a ele um sentido próprio da cultura do seu país. É o que podemos observar na novela Avenida Brasil, exibida pela Rede Globo em 2012, e a influência que sofreu da série americana Revenge. Seja pela trama de vingança, cenários parecidos, renúncia ao amor ou características semelhantes, mas todas foram adaptadas ao contexto brasileiros e ganharam novas perspectivas.





1 comentário:

  1. Oi, Larissa! Achei muito bacana você ter atrelado a explicação teórica a depoimentos de pessoas, constituindo uma espécie de "matéria" sobre o assunto. Acredito que você conseguiu explorar bem os quatro tipos de mediações através dos exemplos.

    Parabéns pelo post! :D

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