terça-feira, 17 de junho de 2014

André Lemos, Teoria Ator-Rede e Cibercultura

Professor da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia e autor de diversos artigos nacionais e internacionais sobre Cibercultura, André Lemos discute em seu livro recente A comunicação das coisas – Teoria Ator-Rede e Cibercultura a cultura digital e as novas mídias a partir da Teoria Ator-Rede. Analisados pela mesma ótica, o livro discorre sobre temas atuais, tais como as mídias locativas, o ciberativismo, os dispositivos de leitura eletrônicos, “a internet das coisas”, as redes sociais e o jornalismo.


Assim, para que os estudos sobre o autor sejam realmente compreensíveis, torna-se indispensável o entendimento do que vem a ser a Teoria abordada como tema central do livro, a Teoria Ator-Rede:
  • “A Teoria Ator-Rede (TAR) tem como pressuposto filosófico-empírico o entendimento de que as ações sociais são geradas por mediadores formando redes”.
  • “A TAR busca analisar como a sociabilidade é construída a partir da relação que temos com os objetos, buscando identificar as mediações que se estabelecem entre atores humanos e não humanos”. ¹
  • “Para os estudos da Cibercultura, a TAR pode ajudar a retratar as associações e fenômenos tão díspares quanto a sociabilidade online, as análises dos rastros deixados em diversas ações na internet, as mídias locativas, o corpo e a subjetividade, as interfaces e interações dos dispositivos móveis, a arte, o ciberativismo, os games, entre outros aspectos.” ²


            Depois de introduzir o livro com a definição e explicação do que seria essa teoria, o autor faz uma interessante associação desta em relação aos pensamentos e estudos realizados por Marshall McLuhan, nas décadas de 60 e 70. Para Lemos, “McLuhan não estava errado, mas impreciso” ao utilizar o termo “meio como extensão do homem”, pois não há um meio que seja uma ampliação ou extensão do homem. Assim, Lemos justifica:
  • “O que define o sujeito, ou o “homem”, é exatamente as associações com outros actantes. Ser sujeito é ser sujeito em rede, em um “meio”. (...) Se retirarmos as relações de um sujeito com os objetos não encontraremos mais nem sujeito, nem objetos.” 
  • “As mudanças culturais, econômicas, cognitivas das novas mídias são, na realidade, a constatação dessa relação intrínseca, não de extensão, mas de hibridização. O meio não é extensão, mas constituição do homem. (...) Devemos ver nesses diversos objetos técnicos um complemento da potencia humana”.


Essas ideias ficaram mais claras quando Lemos fala, em seguida, do papel das mídias sociais na atual cultura digital e do papel da técnica na cultura contemporânea, utilizando o exemplo da Primavera Árabe.

Manifestações na Líbia contra o governo do ditador Muammar Gaddafi

Muitos artigos têm discutido sobre o papel das mídias sociais e telefones celulares nos acontecimentos de fevereiro de 2011 no norte da África e Oriente Médio. As redes sociais tiveram um papel fundamental e indiscutível no levante das manifestações feitas por jovens que queriam a saída de regimes autoritários e melhores condições de vida. Para Lemos, no entanto, o papel desses meios deve ser visto e analisado sob a perspectiva dos actantes envolvidos em suas utilizações, como dito nos seguintes trechos:
  •  “Facebook, twitter, blogs, telefones celulares entre outros actantes não-humanos, fizeram as revoluções ao entrarem em associação com outros “actantes” (pessoas, discursos, dados sociais). (...) Não se trata propriamente de “extensão”, mas de “medicação”, de “tradução”, já que o processo comunicacional se dá nessa rede híbrida.” 
  •  “Toda luta política, todo levante, toda ação que possa ser chamada de social (criada por associações entre actantes que traduzem e mediam uns aos outros) só acontecem pelas conflituosas, difíceis e tensas relações entre humanos e não-humanos.” 
Redes sociais tiveram papel fundamental na organização das manifestações

Os trechos citados acima se relacionam, assim, com a ideia do autor sobre a ideia proposta em relação aos conceitos de McLuhan. Levando em conta que os conceitos de McLuhan foram propostos nas décadas de 60 e 70, quando ainda não existiam as novas mídias digitais e sociais e o advento da internet como um dos marcos mais importantes da sociedade atual, os estudos de André Lemos são importantes não só por serem úteis para estudantes e pesquisadores de diversas áreas humanas, como por possibilitar uma reflexão sobre nossa relação com os meios – que se torna cada vez mais intensa e inevitável. É possível pensarmos sobre nosso papel como sujeito em rede e como podemos utilizá-lo a nosso favor, levando em conta, como citado pelo autor, que “o sujeito não se mistura ao objeto e, para ser sujeito, deve mesmo ser o mais “independente possível” dos objetos, deve se livrar das amarras para achar o seu núcleo velado no interior.”

¹ ; ²: Trechos citados por André Lemos em palestra  para o evento SimSocial 2012, na Universidade Federal da Bahia (UFBA).

1 comentário:

  1. Bom trabalho, Mariana!
    Conseguiu explicar bem algumas das ideias de Lemos!
    Que tal, pegando o gancho das manifestações descritas por ele, falar das que ocorreram no Brasil no ano passado e o papel das redes sociais no processo?

    :D

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