quarta-feira, 25 de junho de 2014

Jenkins - A participação do consumidor na mídia


 As novas mídias digitais proporcionam um cenário onde qualquer pessoa, com pouca instrução no mundo da informática, consegue produzir e disseminar vídeos, imagens e outros conteúdos. Essa possibilidade faz com que cada vez mais o consumidor participe de uma produção midiática que, até algum tempo atrás, só chegava até ele de cima para baixo. Hoje, o consumidor não só consome como também produz.
No livro "Cultura da Convergência", Jenkins aborda a questão da “democratização da televisão” que, segundo ele, é apenas uma retórica, resultado da convergência midiática e “conduzida por interesses econômicos e não por uma missão de delegar poderes ao público”. Um dos motivos desse recurso estar sendo usado pela televisão é o fato da convergência estar sendo estimulada pelos consumidores que, por sua vez, exigem que as empresas sejam mais sensíveis a seus gostos e interesses. Porém, o autor salienta que quaisquer que sejam as motivações, a convergência está mudando o modo como os setores da mídia operam e o modo como as pessoas pensam sobre suas relações com o meio de comunicação. A questão, segundo ele, é se o público está pronto para expandir a participação ou propenso a conformar-se com as antigas relações com a mídia.
Reality shows como American Idol, nos quais a decisão do público influencia diretamente no andamento do programa, são exemplos da inclusão das “pessoas comuns” na produção de mídia. O quadro “VC no MGTV” conta com a participação de telespectadores que desejam mostrar um flagrante, um problema comunitário, fazer alguma denúncia ou reclamação. No primeiro exemplo, a participação está voltada para o entretenimento. No segundo, é possível observar uma apropriação de maior cunho comunitário e social do espaço televisivo. O modo como se dá essa apropriação é questionada por Jenkins, que na conclusão do livro diz: “Os consumidores terão mais poder na cultura da convergência – mas somente se reconhecerem e utilizarem esse poder tanto como consumidores quanto como cidadãos, como plenos participantes de nossa cultura”.

                                    

No American Idol, o público pode escolher pelo seu candidato preferido.

         A convergência estimula a participação e a inteligência coletiva. Quando as pessoas têm acesso a diferentes máquinas, consumindo e produzindo juntas, quando trocam informações e impressões, acabam promovendo interesses comuns. As pessoas ainda estão aprendendo a utilizar esse poder e ainda estamos lutando para definir em que condições nossa participação será permitida (a relação entre fãs de Harry Potter e a Warner Bros. serve de exemplo). No momento, essas habilidades de participação estão sendo aplicadas ao entretenimento comercial por alguns grupos, porque os riscos são baixos e lidar com a cultura popular é mais interessante do que com assuntos mais sérios. Mas é possível verificar que esse poder pode ser aplicado ao ativismo político, por exemplo.

A relação entre fãs de Harry Potter e a Warner Bros., estúdio que detém os direitos de Harry Potter para o cinema passou por turbulências na década passada. Esses fãs, crianças e adolescentes que tinham sites relacionados à história, foram notificados e algumas páginas foram fechadas. Em todo o o mundo, fãs de Harry Potter se uniram em processos contra a Warner e até uma organização, a Defesa Contra a Arte das Trevas foi criada com a intenção de unir os fãs em uma luta contra o estúdio. No final, a Warner teve que recuar e passou a ter uma política mais cooperativa com os fãs. Em uma ocasião, chegaram a patrocinar um evento organizado por fãs da saga na internet.


Igor Santos e Raquel Cataldi

2 comentários:

  1. Bom post, pessoal! Só acho que poderiam colocar uns vídeos para ilustrar, como o VC no MGTV e algumas imagens, como do Idol ou da relação consumidores-produtores, além de explicar rapidamente qual é a tensão entre consumidores de Harry Potter e a Warner.

    :D

    ResponderEliminar